sábado, fevereiro 24, 2007

Pan e Circo no Brasil


O tempo passa, mas algumas coisas não mudam. Há séculos, a política do Pão e Circo foi implementada em Roma para abrandar os ânimos dos camponeses que, com o crescimento da escravidão, perderam seus empregos e se dirigiram para a cidade em busca de uma vida melhor. Infelizmente, para eles, essa melhoria não veio devido ao avanço desordenado da cidade romana, que já não comportava mais a imigração advinda das zonas rurais.

Esse crescimento na cidade provocou temor no imperador César, cujo receio se devia a possíveis revoltas e um provável enfraquecimento do império romano. O Panis et Circensis consistia em dar diversão e comida para o povo com o objetivo de anestesiá-los diante da situação precária em que se encontrava a vida de miséria e pobreza em Roma.

Apesar de meu pequeno devaneio, pense bem: será que isso deixou de existir ou apenas evoluiu para formas mais discretas de açoitamento e a perda por completo da sensibilidade social ?

Programas “sócio-paliativos” como Bolsa família, Programa do Leite, Vale-gás não resolvem nem de longe os problemas arraigados nas entranhas da sociedade brasileira. Esse é o pão de cada dia entregue nas mãos das pessoas para que se contentem apenas com ele e não busquem uma mudança no cardápio de suas vidas.

A dormência começa com a barriga cheia e tende a se estabelecer com o entretenimento se instalando em nossas casas, como se fosse uma verminose que vai corroendo nosso estômago e se espalhando pelo corpo até chegarmos a um estado de completa anestesia.

Esse é o Circo que vem através de diversos eventos como a Copa do Mundo, as Olimpíadas e os Jogos Pan-americanos, este último, a ser realizado no Rio de Janeiro ainda este ano. Parques esportivos de nível internacional estão sendo construídos para abrigar um evento que teve o custo inicialmente orçado em R$ 720 milhões, mas cujos gastos já romperam a barreira dos R$ 3 bilhões.

A organização do Pan e o governo federal discursam e se vangloriam sobre a realização do evento no Brasil e alardeiam sobre os benefícios, a movimentação financeira e a geração de empregos.

Questiono-me e vos questiono acerca do seguinte; por que tanto dinheiro investido num único evento esportivo, este gerando vantagens apenas indiretas à população, se toda essa receita poderia ser direcionada para a direta melhoria de vida do cidadão brasileiro através de investimentos em infra-estrutura, segurança, saúde e educação?

Será que temos tanta fome assim de esporte? Será que poder ir a um posto de saúde e ser atendido sem esperar horas na fila não é mais importante do que participar de um hola em um estádio de futebol? Não seria um preferível sair de casa com a família sem o receio de sofrer com a violência nas ruas a assistir a um jogo de beisebol, esporte que conhecemos através da “caixinha de pandora”?

O Panis et circens de César fez escola e vai sendo aprimorado. A dormência segue e a vida continua. Alguns preferem o pão, outros o circo. Mas será que não teremos nunca a oportunidade de escolher o espetáculo que assistiremos? Continuaremos sendo os gandulas da sociedade, perto de onde o jogo acontece, mas sem a liberdade para interceder?

Nesse caso, simplesmente continuaremos a ser aqueles que são atirados aos leões.