sábado, junho 20, 2009

Curso Básico de Jornalismo



CURSO BÁSICO DE JORNALISMO
Professor: Wagner Lopes (jornalista diplomado)

Temas:
- Aprenda a lidar com o lide.
- Evite a barriga e seja um jornalista enxuto.
- Conheça uma redação que não cai em concursos.
- Descubra que coletiva não é treino do futebol feminino.
- A passagem que não é aceita nos ônibus.
- A fonte que não jorra água.
- A diferença de spot para o personagem orelhudo de Jornada nas Estrelas.
- Compreenda o fantástico mundo do release.
- O assessor de imprensa que não ajuda a apertar ninguém.
- Siga bem o follow-up.
- O espatelamento que não é tão bom como fazer pastel.
- A disparidade entre gilete-press e a assessoria de imprensa da Gilete.
- Choque-se com o nariz de cera que não derrete ao sol.
- Veja a retranca que nem Dunga é capaz de treinar.
- Porque agendamento que não é a marcação de uma consulta.
- Liberte-se da idéia que a manchete vem logo após a cortada.
- Perceba que público-alvo não são os cartazes do stand de tiro.
- Entenda que meios de comunicação quentes não são só as TVs da Playboy.
- Resigne-se por ser filho da pauta.
- Comece a dar seu furo.
- Perca o medo dos toques.
- Aceite que a teoria do espelho não se aplica ao salão de beleza.
- Conheça a tripa que não vai na feijoada.
- Veja um caderno que já vem todo escrito.
- Bata o branco sem ser acusado de racismo.
- A cobertura que não é apartamento de luxo.
- Aprenda porque pirâmide invertida não é uma posição sexual.
- O jornalismo sobre móveis e a matéria de gaveta.
- Diferenças entre opinião pública e a opinião que você publica.
- Descubra que valor-notícia não é quanto pagaram para ela sair.
- O boneco que não serve para seu filho brincar.
- Faça a suíte sem precisar de um pedreiro.
- A escalada que não sai do chão.
- Como usar nota pelada mesmo vestido.
- O plano fechado sem segredos.
- Observe a disparidade entre ping-pong e tênis de mesa.
- Pare de temer o dead-line e continue vivo depois dele.
- Divirta-se com o box onde não se vende nada.
- Reconheça o título que seu clube nunca vai ganhar.
- Dê crédito sem gastar dinheiro.
- Experimente colunas que não sofrerão de reumatismo.
- Use o gancho sem machucar ninguém.
- Veículos que não transitam nas ruas.
- Evite estourar para não perder a cabeça.
- Conheça focas que não equilibram bolas no nariz.
- As semelhanças entre o gatekeeper e o porteiro de seu prédio.
- Revelações de como o hipertexto derrotou o superman.
- Como participar do pescoção sem sair todo dolorido.
- Tire o sutiã sem fazer topless.
- O que separa o gonzo jornalismo do jornalzinho daquele palhaço do SBT.
- Saiba o porquê de não precisar responder às chamadas.
- E finalmente aprenda porque falamos tanto em cachorro, homem, mordida, e outras besteiras do tipo.

O assunto é sério e merece ser tratado com seriedade, mas a brincadeira acima dá só uma mostra do ridículo que foi a decisão do ministro Gilmar Mendes (aquele mesmo amigão do banqueiro Daniel Dantas) derrubando a exigência de diploma de jornalista para a prática do jornalismo.

Mas falando sério: Quem acha que jornalismo não oferece espaço para não jornalistas se expressarem, veja a quantidade de colunas e artigos publicados por não jornalistas. Quem pensa como o ministro que jornalismo não oferece risco à vida das pessoas, experimente a emoção de ter sua foto estampada como estuprador em uma capa de jornal. Completei 10 anos de jornalismo e não sou jornalista só porque tenho diploma. Sou jornalista graças a tudo que aprendi observando, perguntando, pesquisando, escrevendo em todo esse tempo. Agora, se não fosse o diploma e tudo que ele representa, não saberia para onde olhar, que perguntas fazer, como pesquisar, ou o que escrever.

Apesar de você Gilmar Mendes, continuo jornalista, continuo diplomado e continuo orgulhoso de minha profissão!

Do Blog: Seria cômica, não fosse trágica a situação. Agradeço a contribuição do colega Wagner Lopes, jornalista diplomado!

quinta-feira, junho 18, 2009

Sim! Eu sou jornalista diplomado!


Quais são os ingredientes necessários para realizar um sonho? Um grande punhado de força de vontade. Colheradas generosas de paciência. Gotas suntuosas de determinação e talvez umas boas pitadas de sorte. Tudo isso despejado de maneira cuidadosa no ‘panelaço’ da vida.

Pois bem, às vezes a receita a qual nos propomos a preparar desanda por um motivo qualquer. Não porque fizemos rápido ou devagar demais. Não porque exageramos um pouco neste ou naquele outro ingrediente. Muitas vezes, o que faz nosso sonho caminhar três passos à frente, quando nossas pernas nos permitem dar apenas dois passos, é a presença de interesses contrários ao que almejamos.

Indignação é uma das muitas palavras que me vem à cabeça quando se confirmou a notícia de que o diploma de jornalista não é mais uma exigência para o exercício da profissão.

Um sonho que perdeu por oito votos a um. Um sonho que, apesar de não ter sido desfeito, foi duramente atacado e ferido. Em aproximadamente seis meses, devo me formar e receber o diploma, assim como tantos outros no país. Então eu pergunto: Para quê senhores ministros do Supremo Tribunal Federal? Meu esperado diploma, até então uma representação em papel de uma árdua batalha universitária, poderá ser comparado a uma receita para analgésicos. Ou seja, sem utilidade alguma.

Muitos dirão: Mas o que vale é o que você aprendeu nos bancos da faculdade e as horas de estudo! Talvez sim, mas qual será a sensação de um concluinte, depois de quatro anos e meio lutando pela formação superior, ao receber um canudo que não terá mais valor algum?

Tão infeliz quanto à decisão tomada na noite de quarta-feira (17), foi analogia feita pelo excelentíssimo ministro e relator da proposta, Gilmar Mendes, ao comparar a profissão do jornalista a de um cozinheiro ou mesmo um costureiro! Não desmerecendo as profissões citadas, mas ser jornalista não é unir um punhado de ingredientes no boteco da esquina, ou tricotar um casaco para o neto querido. Resumindo: não é pura técnica!

Ser jornalista é ter um papel de extrema importância na formação das sociedades. É, não apenas escrever de forma acessível, mas saber a importância do que se está escrevendo, para quem está se fazendo, sem contar a responsabilidade do ato. É ter a certeza de que, assim como um médico pode destruir uma vida rompendo a artéria de um paciente durante uma cirurgia, um jornalista sem formação e sem conceitos, pode fazê-lo sem utilizar um bisturi e matar não uma, mas uma série de pessoas, com a divulgação de uma notícia mal apurada ou mesmo falsa.

O argumento do STF para derrubar a exigência do diploma apóia-se no direito à liberdade de expressão. E quem, em que momento, e de que forma, cercearia esse direito constitucional mediante a exigência do diploma? Hoje, em qualquer lugar, quem quer escrever, o faz e o publica em qualquer lugar da internet, num folhetim de bairro, ou numa TV comunitária. Para isso, para expor idéias e pensamentos, não há necessidade de se possuir um curso superior. Patativa do Assaré passou longe da academia e expôs sua arte sem qualquer empecilho, assim como tantos outros que o fizeram. Para escrever, basta ter alma, ter coração, uma opinião e querer expressá-lo.

O que se precisa resguardar é a profissão do jornalista. Para exercê-la, é preciso ter não apenas os dons alquímicos dos cozinheiros, mas também os dotes para cruzar informações, como linhas, assim como os costureiros fazem de maneira precisa. No entanto, tão importante quanto, é ter formação.

É preciso ter o reconhecimento dessa profissão na sociedade para que, uma categoria de tamanha importância na vida das pessoas, não seja esfacelada pelos interesses de empresas que, poderão escolher entre uma pessoa que acha ter o dom da escrita e não tem idéia do poder e a responsabilidade que tem nas mãos, a um indivíduo que alia habilidades na grafia a experiência de vida e de conhecimentos científicos específicos que apenas os bancos da academia, as horas de sono mal dormidas e as acaloradas discussões com professores podem proporcionar e transformar um curioso em um profissional.

Tão ruim quanto à decisão é o precedente que se abre. Hoje o jornalista passa a ser desqualificado. Amanhã é o advogado, em seguida o médico. E depois? Em seguida vem o caos. Clima desejado por àqueles no poder, que pretendem manter-se onde estão, e para isso, enfraquecem a categoria que mais pode ameaçar seus anseios. A única categoria - salvo exceções - alheia ao Estado e ao poder e que é capaz de revelar à sociedade, as reais falhas do sistema, dos governantes e das corruptelas instaladas em nossa sociedade e que sugam ininterruptamente e discretamente de nossas tetas.

Mas hoje, mesmo com o pesar que sinto e a descrença ainda maior que passo a ter na Justiça brasileira, tenho orgulho de ser estudante de jornalismo e, mesmo parecendo piegas, defensor da verdade e do interesse coletivo. E, em breve, independente de qualquer coisa, poderei bater no peito e dizer com enorme prazer e satisfação: SIM! EU SOU JORNALISTA DIPLOMADO!