quinta-feira, junho 28, 2007

O tique-taque e as moedas da vida moderna


A vida moderna. Quando você ouve esse termo em que você pensa? Avanço tecnológico, facilidade e praticidade nas comunicações e nas trocas de informação. Num gasto menor de tempo para efetuar inúmeras tarefas que ocupariam a maior parte do dia?

Pois bem, isto tudo é verdade. Mas até onde essa modernidade trouxe benefícios para a sociedade e para os indivíduos?

Dentro do avanço tecnológico, temos o exemplo dos microcomputadores e seus derivados, que vem facilitando a rotina de grande parte da população que precisa ou que tenha acesso a esta ferramenta. Ligada diretamente a esta tecnologia, temos a internet, que mudou completamente as relações sociais e instituiu de maneira quase que irrevogável a globalização ou integração mundial.

Mas acredito que duas coisas, mais especificamente, mudaram na sua essência o mundo como conhecemos para alcançássemos a tal modernidade; a instituição do sistema capitalista e a invenção do relógio. Poderia eu, ter me referido ao tempo ao invés deste último, mas correria o risco de divagar em discussões filosóficas.

De qualquer maneira, estes dois elementos (o relógio e o dinheiro), unidos, transformaram tudo ao nosso redor. Toda produção industrial é baseada no tempo (leia-se relógio). E quanto mais se produz, em menor tempo, maior a possibilidade de lucro. Parece uma equação fácil, mas ao invés da tecnologia que engrandece a produção, diminuir a carga de trabalho, ocorre o inverso e o que era pra ser tempo livre, se tornar espaço para novas tarefas.

Por exemplo, há 24 anos (já existia relógio, claro!!), o brasileiro trabalhava apenas 42 horas por semana e hoje esse número atinge cerca de 51 horas de jornada de trabalho semanais. Atualmente 82% dos brasileiros nos centros urbanos admitem que o nível de ansiedade subiu nos últimos anos e com ele os índices de estresse e de cansaço físico e mental.

Pare e pense; quantas vezes no dia de hoje, você pensou no dinheiro que não tem para comprar algo que, na verdade, nem tem certeza se precisa, ou, em quantas oportunidades observaste as horas com receio de chegar atrasado ao trabalho?

Alguns vão contestar com certeza tais observações e afirmarão que para existir uma sociedade organizada é necessário que hajam limites como esses. Mas tais limites devem extrapolar as necessidades da sociedade e cercearem¹ a própria capacidade do ser humano de viver?!

Quantos momentos importantes ou mesmo felizes de sua vida foram deixados de lado ou tiveram que ser interrompidos, por exemplo, pela necessidade de se dirigir ao seu emprego e trabalhar para ganhar seu salário, que por vezes, nem correspondem a sua responsabilidade e mesmo o risco? Ou simplesmente, em efeitos posteriores, trabalhamos muito, ficamos exaustos e deixamos de usufruir desses momentos de “liberdade”?

Será mesmo necessário se submeter à escravidão do tempo e do capital para conseguir sobreviver? Pode parecer um raciocínio radical, no entanto, quantas pessoas vivem ou viveram alheias a tais regras? Os povos primitivos (primitivos até onde?) viviam distantes de tais limitações. Não havia o sentido de propriedade privada, o dinheiro e os relógios de parede.

Não quero com isso dizer, que o ilustre leitor deveria largar o seu emprego, suas ocupações, quebra seu relógio e passar a morar nas montanhas como um eremita², distante de tudo e todos. Quero apenas alertar que, numa sociedade a qual "tudo que é sólido se desmancha no ar", as coisas que realmente merecem atenção estão ficando em planos inferiores e menos relevantes com o passar do tempo; a família, os amigos, a diversão e a capacidade dos seres humanos de sentir e discernir o que é real em suas vidas.

Saia com seus pais, passeie com seu irmão mais novo, converse com seus amigos, jogue futebol, beije sua namorada com fervor, leia um livro que lhe dê prazer, sorria. Viva a vida como ela merece ser vivida, pois tenho certeza, que além de se tornar uma pessoa melhor, vai perceber o quanto as coisas simples podem deter o processo de "mecanização" pelo qual a sociedade e as relações humanas estão se inserindo, para então o tique-taque e o tilintar das moedas ficarem cada vez inaudíveis diante do som de uma boa gargalhada.

1- Cercear - [Do latim. tard. circinare.] - Corresponde ao ato de restringir, limitar ou diminuir.

2- Eremita - [Do grego. eremítes, pelo lat. tard. eremita.] - Pessoa que vive no ermo -lugar sem habitantes, deserto- por penitência.

quarta-feira, junho 20, 2007

Internet? Para quem?


A existência de 676 milhões de usuários de internet no mundo, cerca de 11,8% da população do planeta, mostra o quanto a evolução da tecnologia e o advento da internet se inseriram de maneira indissociável do cotidiano de grande parte do mundo. A princípio, a internet que tinha fins militares –usada pelos “estadunidenses” a fim de espionar os russos no período da Guerra Fria- passou a ter outras conotações e inserções no cotidiano, quando esta pôde ser trazida de forma prática para a vida das pessoas.

Atualmente, a internet disponibiliza os mais diversos tipos de serviços que partem desde um simples bate-papo entre amigos, uma transmissão rápida e concisa de informações de ponto a outro do globo, até a possibilidade de transações financeiras de valores extremos em segundos.

A facilidade da inserção da web na vida das pessoas ocorre ao mesmo tempo de forma veloz e sutil, tornando uma possível resistência a tal fenômeno quase impossível. Esse fato se dá pela forma como a cultura do imediatismo está presente em nossas vidas, mas este é um assunto a ser abordado posteriormente.

Questionar-lhe-ei, em algum momento você parou para pensar quanto tempo passa na internet? Com que propósito a utiliza? Deixou de realizar uma atividade que a princípio era comum em sua vida somente para poder passar algumas “horinhas” diante do computador?

Pois bem, dependendo de suas respostas, reflita um pouco. O advento da internet é realmente notável e sem dúvida útil a diversas funções. Não seria idiota a ponto de discordar de uma das invenções que revolucionaram o mundo como o conhecemos.

A internet, como qualquer outra invenção, tem seus pontos negativos, e estes são engenhosamente encobertos pelo sistema capitalista e imediatista que faz com que as pessoas acreditem que um bate-papo, um e-mail ou mesmo um perfil no Orkut, possa reduzir as distâncias entre elas e deixá-las mais próximas umas das outras.

Há cerca de duas décadas, não éramos ludibriados com páginas falsas na internet que abusam da ingenuidade de grande parte dos usuários que estão descobrindo as maravilhas da “rede” para fazer saques gordos. A pornografia explícita ainda podia ser controlada pelo horário. E as pessoas saíam nos fins de tarde para se encontrarem e bater um bom papo. Mas e então? Esta internet que temos realmente vale a pena, ou a aqueles dois quilômetros de pedaladas e aquele velho pombo correio com uma mensagem manuscrita não eram tão ruins assim?!

Reafirmando, não tenho interesse de digladiar com a internet feito combatente de César, inclusive, felicito os militares do “Tio Sam” pela poderosa invenção, contudo, peço-lhe encarecidamente caro leitor; desligue o PC e vá andar de bicicleta ou ler um livro.