domingo, janeiro 13, 2008

Futebol: esporte para uma espécie

O futebol é uma paixão no mundo inteiro. Disso, todos nós sabemos. Mas como essa paixão afeta a vida das pessoas? Na verdade, essa paixão é algo tão intenso que proporcionou até a 'criação' de uma espécie, bem curiosa por sinal, entre nós seres humanos; o torcedor.

Passional, enlouquecido, sociável, violento, nervoso, sereno. São características paradoxais, mas que tornam o torcedoris complexus uma espécie digna de um estudo sociológico, psicológico e qualquer outro 'ógico' que você consiga imaginar.

Esses seres são bem dóceis - quase sempre - e costumam andar em bando. Na verdade, um bando bem barulhento. Cornetas, trumpetes, apitos e gogós bem potentes são os instrumentos mínimos e indispensáveis usados por eles para se comunicarem entre si, com os da espécie adversária e com o homenzinho de preto que insiste em marcar falta só para o time visitante.

Quanto ao seu comportamento, eles são dóceis sim, mas basta serem provocados por um 'complexus' de outra região, 'crença' ou mesmo ver seu time passando maus (sic) bocados em campo que esse caráter inofensivo desaparece e qualquer objeto pesado e pontiagudo serve de instrumento propício a lançamento na direção do adversário, do árbitro e até mesmo daquele atacante do seu time que não marca há incríveis dois jogos, sendo estes alvos em potencial.

Contudo, existe uma característica ainda mais peculiar relacionada ao torcedoris complexus. E essa surge no momento sublime do esporte nomeado futebol; o gol.

Exatamente... naquele instante no qual o objeto esférico usado na prática do esporte cruza a linha defendida por um 'qualquer' responsável por guardar as traves do bando adversário, explode uma onda incontrolável de alegria que perpassa desde um filhotinho dos complexus até aquele mais idoso. Possíveis diferenças que tendam a existir são desfeitas em milésimos de segundo e todos se tornam irmãos para celebrar o êxito de seu time do coração, tem até aqueles que abraçam e beijam o primeiro que aparece ao lado – blargh!

Curiosidades à parte e deixando um pouco essa espécie tão curiosa de lado. Penso que em muitas ocasiões, o esporte é alvejado por mim e muitos outros com palavras que o taxam como objeto de manutenção da ordem que deixa as pessoas em estado letárgico, desvirtuando-as ou destituindo-as momentaneamente de visão crítica ou mesmo alterando o foco de atenção de acontecimentos importantes relacionados à sociedade.


Em 2007, tivemos como maior exemplo disso, quando o Pan-americano estava prestes a começar. Dias antes, a mídia só tinha olhos para o ex-presidente do Senado, Renan Calheiros, o qual era acusado de uma série crimes, como quebra de decoro parlamentar e peculato. Mas de uma hora para outra, ele sumiu e ninguém sentiu falta; Cauê (mascote da competição) tomou todos os holofotes e se tornou bem mais importante, pelo menos para alguns...

Apesar de fatos como esse, é necessário pensar um pouco e perceber que num mundo tão desigual e cheio de intempéries, o esporte tem sim seu papel. No momento em que aquele senhor cruza a entrada do estádio junto com seu filho, boa parte dos problemas se 'desfazem' e ele pode, por 90 minutos mais os acréscimos do digníssimo árbitro, acreditar que aquele mundo pode lhe trazer um pouco mais de alegria e ele pode viver uma emoção prazerosa a qual não tem direito regularmente.

Por fim, não tenho interesse em justificar o esporte como válvula de escape para os problemas da vida real, pois as adversidades não desaparecem após o final de uma partida de futebol ou de qualquer outra modalidade esportiva e, ratifico, os olhos precisam ficar abertos para a vida fora do estádio. E quero sim, ressaltar a importância social e ainda democrática da vivência esportiva, mais especificamente do futebol, paixão de muitos no Brasil e no mundo.

2 comentários:

Josie Pontes disse...

bom... eu não faço parte da espécie torcedoris complexus...
sou uma homo sapiens legítima!


gostei do texto!

Carlos Arthur disse...

ABC ABC ABC
\o/