...talvez eu tenha escrito pedidos de desculpas, vários imagino. Posso ter desenhado em folhas brancas, solicitações, congratulações e pedido alguns perdões. Quem sabe, em alguns momentos, ter me arrependido de não tê-las feito, em outros, lamentado profundamente por não ter transformado tais pensamentos em palavras.
Palavras pensadas, não possuem o poder das escritas. As faladas nem de longe têm o mesmo charme. Com toques shakesperianos ou redigidas em Times New Roman, elas são mais que porta-vozes, mas caixas divinas, elas carregam consigo o destino e a felicidade de muitos...
...mas ainda sim eu nunca escrevi uma carta de amor. Talvez por medo de parecer bobo ou de me expor. Quem sabe com receio de ter meus erros de português publicados ou por parecer pedante nas expressões rebuscadas.
Nem à luz do sol ou banhado pela alva claridade da luz produzi missivas amorosas. Posso ter sido romântico numa frase por desleixo ou desenhado corações por engano, mas mensagem de amor em papel? Essas eu nunca escrevi. Posso não as ter escrito para não demonstrar mais afeto do que sentia ou mesmo para esconder todo ele. Nunca as escrevi, nem pequenas, nem grandes, nem claras, nem cifradas, com bela grafia ou em garranchos.
Estou certou de que nem a caneta nanquim, o lápis grafite ou mesmo a velha Bic azul foram capazes de me seduzir. Nem belos pares de olhos verdes ou pequenos olhos amendoados foram fortes o suficiente para me conquistar, até as mais potentes batidas do coração foram ineficazes, nada pôde ser capaz de me coagir...
Na verdade, nunca achei necessário torná-las reais. Nunca percebi a necessidade de sua existência. Tento evitá-la e sim, o mais próximo que vim a chegar delas está traduzido aqui, agora, nesta seqüência incoerente de palavras. Por que bilhetes, cartas, fax ou sinais de fumaça não declaram amor, pessoas sim...
Só as pessoas podem dizer como, quanto e o que sentem. Só os seres humanos, em suas expressões naturais, sem subterfúgios ou suporte, poderão traduzi-las, não com simples letras, mas por meio de algo que transcenda toda e qualquer barreira...
Seus melhores exemplares nunca serão escritos, eles preferem ostentar e atiçar os sentidos. O amor quer ser observado tal como uma bela paisagem a satisfazer os olhos dos amantes, necessita ser sentido tal como o leve toque de uma brisa ou aspirado para percorrer todo o corpo desejado, ele quer ser ouvido, para que suas palavras sempre ecoem no coração do destinatário que, enfim, irá saborear o delicioso gosto deste sentimento que não pode ser grafado...
Entendo que tudo que o autor de uma carta de amor deseja é que sua amada possa guardar aquele pedaço de papel e que sempre, ao ler aquelas palavras, ela possa rememorar...
Mas folhas de papel e corações em árvores se desfazem com o tempo e é por isso que eu, do fundo do meu coração, prefiro nunca escrever...
... uma carta de amor.
Os olhos do ser humano são muito volúveis. Pode parecer uma afirmação esquisita, mas se refletirmos um pouco, é possível perceber o quão verdadeira ela é. Mas a volubilidade da ação visual, ao menos entre os homens, é diretamente proporcional a voluptuosidade, do bem desenhado e aguçador, decote.
Sim, o decote. Para as mulheres, uma potencial arma de sedução com o poderio equiparável a um belo par de coxas. Para os homens, muito mais que um simples pedaço de pano com linhas articuladas ao prazer de um estilista qualquer. Em dados momento uma obra de arte, em outras uma divina.
O decote é um pequeno portal pelo qual os olhares masculinos viajam. Por vezes, percorrendo um caminho no qual rememoram alguns que já lhes foram apresentados, em outros, rumo ao desconhecido. Mas, de uma forma ou de outra, eles demonstram um poder hipnótico, magnético talvez, e diria ainda, constrangedor que tem sobre nós, seres do sexo masculino.
A existência dele vem de muito tempo e foi peça chave de muitas histórias. O decote da senhorita estagiária Lewinsky e os hormônios em ebulição do presidente Clinton, as cavas reais do vestido da princesa Diana e a ‘batalha’ entre o motorista e o herdeiro do trono inglês. Será que Romeu gamou mesmo em Julieta ou era pelo decote da moça que ele estava encantado?
Pois bem. Ele está presente em todos os lugares. Nas faculdades, nos escritórios, nos bares, nas ruas, nos carros e onde quer que você menos imagine. Sempre haverá um exemplar pronto para servir de deleite aos olhos masculinos, inebriá-los e corrompê-los.
Sim, corrompê-los. Ele é inevitável, ele vicia, perverte, desarticula o olhar masculino. Qual o homem que nunca parou para observar o desenho suave de um decote bem posto, daqueles que salienta as formas femininas, as expondo de forma, às vezes sutil, por outras agressivas, mas sempre de uma maneira arrebatadora, onde o que é para permanecer oculto, permanece. Alheio aos olhos indesejáveis, mas não distante dos que realmente interessam.
Da próxima vez que você, homem, sair de casa, lembre-se, decotes são perigosos, causam acidentes, mas em quase nada, são prejudiciais a nossa saúde. Às mulheres, não muito a dizer, apesar de nocivo ao trânsito e as glândulas hormonais masculinas, eles são lindos e deixam nossos dias um pouco mais interessantes, portanto, decotai-vos!