quinta-feira, junho 18, 2009

Sim! Eu sou jornalista diplomado!


Quais são os ingredientes necessários para realizar um sonho? Um grande punhado de força de vontade. Colheradas generosas de paciência. Gotas suntuosas de determinação e talvez umas boas pitadas de sorte. Tudo isso despejado de maneira cuidadosa no ‘panelaço’ da vida.

Pois bem, às vezes a receita a qual nos propomos a preparar desanda por um motivo qualquer. Não porque fizemos rápido ou devagar demais. Não porque exageramos um pouco neste ou naquele outro ingrediente. Muitas vezes, o que faz nosso sonho caminhar três passos à frente, quando nossas pernas nos permitem dar apenas dois passos, é a presença de interesses contrários ao que almejamos.

Indignação é uma das muitas palavras que me vem à cabeça quando se confirmou a notícia de que o diploma de jornalista não é mais uma exigência para o exercício da profissão.

Um sonho que perdeu por oito votos a um. Um sonho que, apesar de não ter sido desfeito, foi duramente atacado e ferido. Em aproximadamente seis meses, devo me formar e receber o diploma, assim como tantos outros no país. Então eu pergunto: Para quê senhores ministros do Supremo Tribunal Federal? Meu esperado diploma, até então uma representação em papel de uma árdua batalha universitária, poderá ser comparado a uma receita para analgésicos. Ou seja, sem utilidade alguma.

Muitos dirão: Mas o que vale é o que você aprendeu nos bancos da faculdade e as horas de estudo! Talvez sim, mas qual será a sensação de um concluinte, depois de quatro anos e meio lutando pela formação superior, ao receber um canudo que não terá mais valor algum?

Tão infeliz quanto à decisão tomada na noite de quarta-feira (17), foi analogia feita pelo excelentíssimo ministro e relator da proposta, Gilmar Mendes, ao comparar a profissão do jornalista a de um cozinheiro ou mesmo um costureiro! Não desmerecendo as profissões citadas, mas ser jornalista não é unir um punhado de ingredientes no boteco da esquina, ou tricotar um casaco para o neto querido. Resumindo: não é pura técnica!

Ser jornalista é ter um papel de extrema importância na formação das sociedades. É, não apenas escrever de forma acessível, mas saber a importância do que se está escrevendo, para quem está se fazendo, sem contar a responsabilidade do ato. É ter a certeza de que, assim como um médico pode destruir uma vida rompendo a artéria de um paciente durante uma cirurgia, um jornalista sem formação e sem conceitos, pode fazê-lo sem utilizar um bisturi e matar não uma, mas uma série de pessoas, com a divulgação de uma notícia mal apurada ou mesmo falsa.

O argumento do STF para derrubar a exigência do diploma apóia-se no direito à liberdade de expressão. E quem, em que momento, e de que forma, cercearia esse direito constitucional mediante a exigência do diploma? Hoje, em qualquer lugar, quem quer escrever, o faz e o publica em qualquer lugar da internet, num folhetim de bairro, ou numa TV comunitária. Para isso, para expor idéias e pensamentos, não há necessidade de se possuir um curso superior. Patativa do Assaré passou longe da academia e expôs sua arte sem qualquer empecilho, assim como tantos outros que o fizeram. Para escrever, basta ter alma, ter coração, uma opinião e querer expressá-lo.

O que se precisa resguardar é a profissão do jornalista. Para exercê-la, é preciso ter não apenas os dons alquímicos dos cozinheiros, mas também os dotes para cruzar informações, como linhas, assim como os costureiros fazem de maneira precisa. No entanto, tão importante quanto, é ter formação.

É preciso ter o reconhecimento dessa profissão na sociedade para que, uma categoria de tamanha importância na vida das pessoas, não seja esfacelada pelos interesses de empresas que, poderão escolher entre uma pessoa que acha ter o dom da escrita e não tem idéia do poder e a responsabilidade que tem nas mãos, a um indivíduo que alia habilidades na grafia a experiência de vida e de conhecimentos científicos específicos que apenas os bancos da academia, as horas de sono mal dormidas e as acaloradas discussões com professores podem proporcionar e transformar um curioso em um profissional.

Tão ruim quanto à decisão é o precedente que se abre. Hoje o jornalista passa a ser desqualificado. Amanhã é o advogado, em seguida o médico. E depois? Em seguida vem o caos. Clima desejado por àqueles no poder, que pretendem manter-se onde estão, e para isso, enfraquecem a categoria que mais pode ameaçar seus anseios. A única categoria - salvo exceções - alheia ao Estado e ao poder e que é capaz de revelar à sociedade, as reais falhas do sistema, dos governantes e das corruptelas instaladas em nossa sociedade e que sugam ininterruptamente e discretamente de nossas tetas.

Mas hoje, mesmo com o pesar que sinto e a descrença ainda maior que passo a ter na Justiça brasileira, tenho orgulho de ser estudante de jornalismo e, mesmo parecendo piegas, defensor da verdade e do interesse coletivo. E, em breve, independente de qualquer coisa, poderei bater no peito e dizer com enorme prazer e satisfação: SIM! EU SOU JORNALISTA DIPLOMADO!

7 comentários:

Anônimo disse...

Acho que todos jornalistas, juntamente com todos os diplomados de todas as áreas deveriam fazer protestos, manifestações, o que fosse necessário para que mais está vergonha e falta de respeito com nossa sociedade acabe.
Lendo este artigo e vendo as noticias na TV, só consigo me perguntar: será que um dia isso poderá acontecer com minha profissão de Contadora e com tantas outras profissões? Será que um dia os nossos governantes teram vergonha na cara e pararam de incentivar os jovens a não estudarem? Será que nossos sonhos e nossos esforços para vencer na vida, não teram mais sentido?
Sendo assim, jornalistas tenham orgulho de mesmo num pais como o nosso vocês podem dizer que são uma minoria que venceu na vida e que continuaram vencendo.
Parabéns, Bruno Wesckley, por não ficar calado como tantos.

Anônimo disse...

Muito bom! Gostei d+!!!
Parabéns por relatar o sentimento de muitos de nós e de maneira tão bem escrita!

Carol Almeida disse...

Caramba Bruno!! Ficou óóóótimo o artigo!!
Muito bom!!
Coloca isso nos corredores lá da UFRN pro pessoal acordar também!!
Beijos

Marline disse...

Parabéns pelo texto Bruno. Conseguiu reunir com bravura tudo o que realmente importa nessa história toda. A verdade é que muitos não conseguiram dormir na noite em que foi tomada essa decisão absurdo. Supremo....

Kívia Soares disse...

Valeu!!!
Òtimo texto!
Parabénsss...

maria disse...

só ter o dom de escrever não significa que se possa fazer jornalismo.

a profissão é muito mais que contar uma história real, isso fica para os escritores ou historiadores. fazer é jornalismo é ter compromisso com a informação, ter certeza que ela vai chegar de forma certa ao leitor, cumprindo o seu objetivo de informar.

tirar o crédito do diploma, é jogar no lixo não só as aulas das técnicas de redação, mas também toda a teoria, o embasamento científico que os focas aprendem em 4 anos e meio.

o stf foi infeliz em sua decisão, mas mais infeliz ainda serão as empresas que aceitarem jornalistas fajutos, que não estudaram para exercerem a profissão.



belo texto!
beijo!

Graziella Sousa disse...

Brunoooo, seu artigo está, simplesmente, espetacular!
Você conseguiu expor em suas linhas exatamente o que sinto e o que tento repassar para os que me perguntam: e agora?
Quando leio textos assim me orgulho ainda mais da minha profissão e do meu diploma!
Parabéns!