
Tapa olho, papagaio no ombro, perna de pau e um pequeno gancho ocupando o lugar de sua mão direita. Que imagem você consegue formar em sua cabeça? No mínimo, você visualiza o capitão Gancho correndo atrás do Peter Pan! Quem sabe um personagem mais moderno, como o sacana Jack Sparrow tentando pegar a belezoca da Elizabeth Swann...
... Pois bem, agora imagine várias banquinhas espalhadas por um veloz e tumultuado centro de uma cidade grande, pequenas estruturas de madeira abarrotadas de cds, dvds falsificados, com vários homens de tapa-olhos e aves verdes ao redor. Tudo isso é no mínimo surreal, não é mesmo?!
Na verdade, esse quadro não pode ser visto com todas essas pinceladas juntas, mas quem disse que separados elas não existem? Exceto pelos tapa-olhos e o conglomerado de bicudos esverdeados, os piratas estão de volta e, aparentemente, com toda força. Amparados por alta tecnologia para cópias rápidas de mídias ou efetuando seqüestros em alto mar, eles agem nos sete mares ou nas principais ruas das cidades brasileiras.
Ser pirata voltou a ser um meio de vida. Um navio “nórdico”, que bem poderia ser pilotado por vikings com capacetes adornados por asas e guiados pelo deus Thor, foi atacado por piratas somalis no Oceano Índico. Violência no mar, tiros, um capitão resgatado, três
piratas mortos e um levado sob custódia. Cenas que bem poderiam preencher telas de cinema ou estar em dvds vendidos em calçadões, mas estão estampadas nas TVs mostrando o retorno da humanidade à barbárie.
Em alto mar, enquanto o estampido dos disparos é abafado pelos gritos de homens e mulheres que em vez de invadirem o os portos e outras embarcações, tomam o passeio público, anunciam a venda de filmes em pré-produção e música que ainda nem foram gravadas. Eles infringem a lei, sim, mas na maioria das vezes com o objetivo de alimentar suas famílias, já que os governos "monárquicos-republicanos" não lhes permitem ganhar o pão de cada dia, sem que eles percam a dignidade.
Saqueadores de metais preciosos, dinheiro, direitos, vida e da própria essência do ser humano - a própria etimologia da palavra humanidade remete à benevolência e a compaixão. Mas que humanidade ou civilização é essa? Tão celebrada entre os povos “avançados”, mas que se perde a cada dia em função de contas bancárias rechonchudas, sorrisos vazios e olhos que espelham o nada ...
Se o conceito que vale agora - em tempos de clonagem,
células-tronco e
blueray - é o de piratear, então que tal piratearmos as boas ações? Copiarmos a boa vontade e a compaixão? Reproduzirmos a alegria e difundirmos abraços apertados para, em vez de hasteamos a bandeira negra e cadavérica do cinismo e da hipocrisia, carregarmos sobre os nossos ombros a flâmula da esperança, ladeada por sonhos de uma vida melhor...
... Uma vida com uma arte real, pessoas verdadeiras, sentimentos originais, com liberdade nos mares e um belo espaço nas calçadas. Está mais do que na hora de você parar, tirar o tapa-olho e escolher a sua bandeira...