A morte de Isabella Nardoni, de apenas 5 anos, é o agendamento midiático do momento. Ou seja, o tema de maior impacto, o qual os veículos de comunicação estão proporcionando maior cobertura em detrimentos de outros assuntos nos últimos dias, nos jornais, nas rádios e na televisão.
A forma como este crime está sendo exposto divide opiniões e de uma forma bem sucinta, tentarei expor os dois lados, o negativo e positivo, da ampla atenção que vem sendo dada ao fato pela mídia nacional: A mídia, agente educador
Por um lado, a imprensa está conseguindo algo que normalmente não é comum. Dar continuidade a umtema, a um fato. Normalmente, um assunto é explorado até um dado momento, até que outra coisa maior ou de interesse do meio de comunicação aconteça para que o agendamento seja mudado.
Além disso, a cobertura - na medida do possível - está sendo realizada de maneira multidirecional, pelos menos nos últimos dias, quando as partes envolvidas estão sendo entrevistadas e tendo espaços nos veículos, desde a polícia, passando pelos advogados e promotoria, até os acusados.
Há ainda a questão da formação e educação que a mídia proporciona, uma das funções pouco exploradas e percebidas pela maioria dos cidadãos. Com o acompanhamento quase em tempo real, é possível para a população perceber como funciona o trabalho de investigação, de abertura de um inquérito e todo o processo para que alguém possa ser julgado.
O lado negro da mídia
Mas nem tudo são flores na também cruel e maldosa cobertura do caso Isabella Nardoni. Apesar de agora, as pistas e os indícios mostrarem o casal (pai e madastra da garota) com os principais suspeitos do crime de maneira mais clara, estes logo no início da cobertura, já haviam sido declarados culpados pela própria imprensa, que infelizmente, possui o dom acusar, para em seguida, apurar com mais cuidado.
Foi incitado ódio nas pessoas, que antes mesmo da liberação de qualquer laudo ou informação mais concreta sobre o caso, cidadãos já cercavam o carro dos acusados clamando por justiça e taxando o casal por assassinos. Sobre a imprudência da mídia, leia um pouco sobre o caso da Escola de Base, onde um casa, proprietários de uma escola infantil, foi acusado de abusar sexualmente de crianças, e tiveram sua vida devassada e destruída, para depois de tudo, ser constatado que ambos eram inocentes.
Existe também a superexposição do fato, não se vê, lê, ou ouve nada diferente em relação a notícias que não seja a morte de Isabella. Diversos outros temas e assuntos bem mais importantes para o coletivo, para a sociedade em geral, como problemas sociais que vêm a fomentar a prática de crimes bárbaros como esse tal.
Pense bem, quantas crianças morrem em situações parecidas ou em circunstâncias bem piores. Bebês perdem a vida por falta de comida todos os dias, no mundo inteiro, e isso não é noticiado em lugar algum. O máximo que ocorre, é que essas mortes se tornem estatísticas para um discurso demagogo e hipócrita durante a campanha eleitoral.
Ocorre ainda que a pressão dos jornalistas e da grande mídia acaba por prejudicar as investigações do caso que, como qualquer outro, precisa ser apurado com cuidado para não provocar a construção de um grande erro que pode acabar com a vida de um casal, ou livrar dois monstros da cadeia. A cobrança constante por parte da imprensa e a busca por novas notícias faz com que a investigação não satisfaça a ela própria, mas também para alimentar a fome pela informação, o que pode proporcionar o desvio do foco, que é elucidar o caso.
Crescimento social ou a guilotina?
Enfim, apenas quis trazer um pouco do que acontece por trás da construção de uma notícia, e da importância do cuidado para que uma informação seja mostrada pelo que ela é, e não pelo que querem que ela seja. Porque o jornalismo pode ser uma forte arma para crescimento social ou uma máquina do tempo para regredir ao tempos da guilotina medieval.