sexta-feira, abril 11, 2008

Inconseqüência fora do ar

Há um tempo não escrevo neste blog e essas mensagens que fazem referência a este abandono são quase tão freqüentes quanto as postagens. Mas deixando de conversinhas paralelas, como diziam meus professores do ensino médio, vamos ao que interessa.

Não tenho acompanhado com rigor todas as reportagens relativas ao caso da morte da pequena Isabella Nardoni, de apenas 5 anos, a qual não vou descrever, pois aqueles que eventualmente venham a ler este texto, devem ter conhecimento de causa. Nesse sentido, uma coisa eu posso avaliar, tanto enquanto cidadão - são e com o mínimo de discernimento crítico - quanto como estudante de jornalismo que consegue perceber a espetacularização inicial dada ao fato.

Não quero reduzir o nível da barbaridade da morte da criança, mas quantas crianças morrem em situações parecidas ou em circunstâncias bem piores. Bebês perdem a vida por falta de comida todos os dias, no mundo inteiro e isso não é noticiado em lugar algum, a não ser como estatísticas durante campanha eleitoral num discurso demagogo e hipócrita.

O comum, o trivial, não é interessante à mídia que tem sede de sangue e o ímpeto de alimentar a fúria e o falso moralismo de uma população que pede um culpado para um crime que ninguém sabe quem cometeu, apesar das suspeitas.

Duas pessoas saíram de uma prisão de 30 dias, mas quem sabe quanto tempo elas permanecerão enclausuradas num sentimento de culpa que pode muito bem não ser deles? Imagine-se no lugar de um pai acusado de matar o próprio filho, sendo ele, inocente?

Escrevo isto com uma enorme dor no coração pelo sangue frio do assassino e pela não menos fria mente de cada cidadão, telespectador, leitor, internauta ou simples fofoqueiro que prefere chutar um veículo em movimento e chamar um homem de assassino, ao tentar perceber o mundo podre e insano no qual ele está vivendo.

Não quero declarar ninguém culpado ou inocente, não quero posar de bom samaritano, quero apenas mostrar como uma pessoa pode se indignar, naturalmente, sem antecipar o julgamento de alguém por preconceito ou mesmo por falta de conceito algum.

Espero, de verdade, que o caso tenha um desfecho e que não fiquemos com mais um crime indo parar numa gaveta escura e com cheiro de mofo por falta de investigação ou empenho da polícia. Torço também para que este jornalismo que muitas vezes é feito pelo Ibope e não pela busca da imparcialidade - que realmente não existe plenamente no conceito de jornalismo-, busque menos culpados e mostre mais a verdade, sem distorções ou floreios.

Mas minha maior e real vontade e poder ver pessoas se preocupando com as outras por natureza e não por um agendamento midiático que insiste em mostrar a tragédia por ela mesma e não como ferramenta de mudança social e humana.

Esse não é apenas um artigo de opinião, mas um desabafo pela forma com vejo o jornalismo sendo feito, tal como salsichas, que até são boas de degustar, mas a forma como são feitas, na maioria das vezes, não agrada.

4 comentários:

maria disse...

Eu tava comentando isso ontem na aula, do porquê desse caso da isabella tá tão evidenciado se, todos os dias, acontecem coisas parecidas ou piores.
é fato que o caso chamou tanta atenção e repercurtiu (?) tanto que dar continuidade até quando ele render é uma boa proposta pra que os veículos de comunicação sejam consumidos.
daqui a pouco surge outro assunto mais interessante que esse, aí todo mundo esquece, como já aconteceu com tantos outros.

bom texto, doutor!
parabéns! :)


.. ...!

Larissa Rovane disse...

o foda, assim, é que em vez de noticiarem problemas como a dengue, como as enchentes no nordeste e váááárias outras coisas eles ficam fazendo a menina se revirar no túmulo.

tsc, tsc.

Unknown disse...

É um circo e vamos assistir ao que acontece agora...

Hoje, foi o espetáculo da liberação do pai e da madastra. Acusados, claro, pelo povo tão juiz que julgou Jesus como culpado... É a voz do povo e a voz de Deus...

Até mais!

Anônimo disse...

Se as pessoas não se interessassem não passaria. É claro que há um exagero na repercussão do caso, mas temos que ser realistas. O povo brasileiro gosta de fofoca e de desgraça. Só espero que isso mude... e logo!