terça-feira, abril 22, 2008

A imprensa no caso Isabella Nardoni

A morte de Isabella Nardoni, de apenas 5 anos, é o agendamento midiático do momento. Ou seja, o tema de maior impacto, o qual os veículos de comunicação estão proporcionando maior cobertura em detrimentos de outros assuntos nos últimos dias, nos jornais, nas rádios e na televisão.

A forma como este crime está sendo exposto divide opiniões e de uma forma bem sucinta, tentarei expor os dois lados, o negativo e positivo, da ampla atenção que vem sendo dada ao fato pela mídia nacional:


A mídia, agente educador

Por um lado, a imprensa está conseguindo algo que normalmente não é comum. Dar continuidade a umtema, a um fato. Normalmente, um assunto é explorado até um dado momento, até que outra coisa maior ou de interesse do meio de comunicação aconteça para que o agendamento seja mudado.

Além disso, a cobertura - na medida do possível - está sendo realizada de maneira multidirecional, pelos menos nos últimos dias, quando as partes envolvidas estão sendo entrevistadas e tendo espaços nos veículos, desde a polícia, passando pelos advogados e promotoria, até os acusados.

Há ainda a questão da formação e educação que a mídia proporciona, uma das funções pouco exploradas e percebidas pela maioria dos cidadãos. Com o acompanhamento quase em tempo real, é possível para a população perceber como funciona o trabalho de investigação, de abertura de um inquérito e todo o processo para que alguém possa ser julgado.

O lado negro da mídia

Mas nem tudo são flores na também cruel e maldosa cobertura do caso Isabella Nardoni. Apesar de agora, as pistas e os indícios mostrarem o casal (pai e madastra da garota) com os principais suspeitos do crime de maneira mais clara, estes logo no início da cobertura, já haviam sido declarados culpados pela própria imprensa, que infelizmente, possui o dom acusar, para em seguida, apurar com mais cuidado.

Foi incitado ódio nas pessoas, que antes mesmo da liberação de qualquer laudo ou informação mais concreta sobre o caso, cidadãos já cercavam o carro dos acusados clamando por justiça e taxando o casal por assassinos. Sobre a imprudência da mídia, leia um pouco sobre o caso da Escola de Base, onde um casa, proprietários de uma escola infantil, foi acusado de abusar sexualmente de crianças, e tiveram sua vida devassada e destruída, para depois de tudo, ser constatado que ambos eram inocentes.

Existe também a superexposição do fato, não se vê, lê, ou ouve nada diferente em relação a notícias que não seja a morte de Isabella. Diversos outros temas e assuntos bem mais importantes para o coletivo, para a sociedade em geral, como problemas sociais que vêm a fomentar a prática de crimes bárbaros como esse tal.

Pense bem, quantas crianças morrem em situações parecidas ou em circunstâncias bem piores. Bebês perdem a vida por falta de comida todos os dias, no mundo inteiro, e isso não é noticiado em lugar algum. O máximo que ocorre, é que essas mortes se tornem estatísticas para um discurso demagogo e hipócrita durante a campanha eleitoral.

Ocorre ainda que a pressão dos jornalistas e da grande mídia acaba por prejudicar as investigações do caso que, como qualquer outro, precisa ser apurado com cuidado para não provocar a construção de um grande erro que pode acabar com a vida de um casal, ou livrar dois monstros da cadeia. A cobrança constante por parte da imprensa e a busca por novas notícias faz com que a investigação não satisfaça a ela própria, mas também para alimentar a fome pela informação, o que pode proporcionar o desvio do foco, que é elucidar o caso.

Crescimento social ou a guilotina?

Enfim, apenas quis trazer um pouco do que acontece por trás da construção de uma notícia, e da importância do cuidado para que uma informação seja mostrada pelo que ela é, e não pelo que querem que ela seja. Porque o jornalismo pode ser uma forte arma para crescimento social ou uma máquina do tempo para regredir ao tempos da guilotina medieval.

3 comentários:

Anônimo disse...

ótimo texto. realmente há os dois lados dessa tamanha cobertura da mídia no caso isabella..concordo de fato com o que foi explanado. valeu

Anônimo disse...

Olha só.

Eu concordo com o que você expôs e tal, mas venhamos e convenhamos que o caso realmente chocou o país, certo?

Na verdade o agravante mesmo foi a menina ter sido jogada do apartamento. Porque será mesmo que se ela tivesse sido morta em casa iria ter a repercussão que teve? Eu acho que não. Em São Paulo sim, mas no Brasil, como um todo, não; certamente que não.

Se eles são ou não culpados do crime, só o julgamento pode afimar, mas que eles são culpados de qualquer coisa que tenha contribuído pra isso, ah são.

Mas já tá muito tarde pra questionarmos isso. A maioria das evidências atestam o pai e a madrasta como culpados sim. E mesmo que não fossem, a vida dos dois já era. O linchamento seria certo caso fossem soltos.

E quanto a imprensa; ela sobrevive disso, concorda?!

Unknown disse...

Bom texto!

Realmente acho que existe uma super exposição do caso, afinal de contas, como você mesmo falou, existem casos iguais ou piores em todo o pais e na verdade só causou tamanha exposição o tal caso por se tratar de uma familia de classe media alta de uma grande capital,ou será que se a menina fosse de familia pobre algum canal ou jornal iria ao menos dar cobertura? Acho dificil.
Outro ponto, a condenação antescipada do casal realmente foi algo perceptivel, embora agora já esteja práticamente comprovada a culpa deles.
De positivo nisto tudo só encontro mesmo a boa cobertura dos fatos, quase q em tempo real.