domingo, agosto 03, 2008

Ainda assim?

Todos clamam e saúdam o amor. Ahhhh, aquele sentimento nobre. Uma força que toma os nossos corpos e nossa mente e faz a racionalidade se perder em momentos de êxtase e delírio. O suor frio sendo expelido pelas mãos e pés, a insegurança no olhar, os membros trêmulos, o ciúme todos esses são acessórios indispensáveis para aqueles que amam.

Recentemente ouvi uma afirmação que dizia exatamente o seguinte: "o amor é coisa do demônio". A princípio, parece uma citação absurda, mas por outro lado bem curiosa. Você diria que isso é coisa de gente que não conheceu o verdadeiro amor, que foi mal-amada, ou que foi vítima de um sentimento platônico, o qual apenas ela amou.

Mas pense bem, exatamente por isso, se esse sentimento é tão nobre, por que tantos sofrem por causa dele? Por que alguém sempre precisa se submeter para que ele exista? Aos poucos, e pensando bem, essa "blasfêmia" passa a ser um desabafo.

A felicidade e o amor parecem vias opostas, vias que nunca se cruzam. As pessoas passam algumas dezenas de anos juntas, não por amor, mas por companheirismo, por medo da solidão, por uma boa amizade ou por um motivo qualquer.

Graças a este sentimento, alguns impérios foram destruídos, várias pessoas foram mortas, outras sofreram bastante e tratou de perpetrar algumas das obras primas da arte e da literatura, sendo este sentimento uma fonte inesgotável de inspiração.

O amor é mais catalisador de outros sentimentos e emoções do um exemplar desses. Ele nos faz vociferar palavras que vão da adoração ao asco em questão de segundos.

Mas a grande pergunta que vem a minha cabeça e a de muitos outros é o por que de não deixarmos de buscar o amor? É incrível como não esquecemos esse sentimento de dedicação absoluta de um ser a outro ser, essa devoção extrema, que vicia, que maltrata, que nos fazer perder a razão?

Porque, antes da dor, a sensação que nós temos é a de estar num lugar que a maioria das pessoas não conhece. Esse força que nos toma, nos transporta imediatamente, quando ao lado da pessoa amada, para o nirvana, o céu, o paraíso, o elíseos momentâneo.

E mesmo sendo essa uma situação efêmera, uma batalha cujo final está supostamente anunciado, para nós ainda vale a pena enfrentar está luta, por que todos, um dia, sempre irão querer e poder dizer: eu te amo.

terça-feira, julho 22, 2008

Insanidade racional na telona

Ao sentar diante do computador para escrever este comentário cinematográfico simplesmente não sabia por onde começar. Então parei e pensei: Por que não dar início à crítica pelo que há de melhor em Batman: Darknight? Então alguns devem me perguntar, dentre as várias qualidades, qual delas se sobressairia ? O roteiro recheado com um clímax atrás do outro? O viés anárquico e crível de uma sociedade como a nossa, corrupta e violenta? A ficção se misturando com a realidade de um herói possível? Ou uma das melhores interpretações de um vilão perfeito criado pela mente humana?

Esqueça tudo que você já viu do Coringa na telona. O ator Heath Ledger parece ter esquecido em casa toda a sua sanidade para interpretar o clássico e mortal inimigo do homem-morcego. Nada de pistolas com o velho 'Bang' ou bonequinhos explosivos. Pregando o caos, levantando chamas com milhares de notas de cem dólares e mandando pelos ares hospitais vestido de enfermeira. Seu objetivo é perpetrar o medo nos corações e transformar a efêmera ordem estabelecida na cidade de Gotham, após a chegada do Batman, no estopim para a derrocada da sociedade 'organizada'.

Ledger vem para mostrar que o Coringa é algo maior, é a representação de um produto originado por uma sociedade caótica embebida em preconceitos, inseguranças, violência e prestes a ultrapassar a linha da racionalidade. Harvey "Duas-Caras" Dent (Aaron Eckhart), o novo promotor da cidade, é o maior exemplo disso, pois surge para trazer uma verdadeira mudança com rosto à Gotham, mas se desfaz na ambigüidade das emoções humanas e na deformação de uma personalidade instável e até então incorruptível.

Do outro lado da balança está o Batman/Bruce Wayne (Christian Bale) mais envolto do que nunca na escuridão, Batman: Darknight traz um herói lapidado pelas batalhas em Gotham City e deixando para trás aquele que ainda tinha visões com morcego em Batman: Begins. Crescido e mais agressivo do que nunca, ele parte para cima do crime organizado quebrando pernas e destruindo caminhões em perseguições animalescas.

O diretor Christopher Nolan, que assina o roteiro ao lado do seu irmão, Jonathan, não teve medo de apostar na verdadeira alma do Batman e de uma cidade envolvida em trevas e na insanidade de um homem que completa o desejo da ordem de outro, criando um yin-yang perfeito em seqüências de tirar o fôlego.

Além da profundidade do roteiro e dos personagens humanos do tenente/comissário Jim Gordon (Gary Oldman), o mordomo Alfred (Michael Caine) e o braço-direito empresarial de Wayne, Lucius Fox (Morgan Freeman), a ação é constante nos 152 minutos de filme, numa sucessão ininterrupta de diálogos coesos e que brotam no momento certo. Até mesmo as mínimas arestas criadas por alguns personagens são detonadas quando necessárias, à base de gasolina e muito fogo.

Neste, que é disparado um dos melhores filmes do ano, um confronto épico entre duas forças que ao ponto que se misturam parecem formar um equilíbrio indissociável na tela grande, pode ter sérios problemas para se superar. O maior acerto de Christopher Nolan pode tê-lo colocado em maus-lençóis para a seqüência do Cavaleiro das Trevas, pois, será que há no mundo alguém que consiga 'pôr um sorriso em seu rosto' de forma tão brilhante e insana como Heath Ledger?

sábado, julho 19, 2008

A areia certa na ampulheta...

Acordei cedo hoje, tomei meu café da manhã como de costume e junto com um amigo peguei um transporte coletivo, bem recheado, com algumas dezenas de pessoas. Algumas conversavam, outras apenas observavam as cenas cotidianas pela janela do ônibus, umas liam e muitas estavam apenas perdidas em seus pensamentos.

Mas eu, pelo contrário, não estava perdido. Me mantinha enclausurado neles de propósito. A cada prédio que passava por mim, a mais de 50 quilômetros por hora, me vinha a lembrança de como essa semana havia passado rápido. Pior, como estes últimos meses e anos eram engolidos como areia fina numa ampulheta faminta.

A cada rosto veloz, alheio a mim, sentia como se a vida estivesse sendo devorada, arrebatada de uma forma sutil e explícita. Um dia após outro acabava reduzido a telefonemas vazios e a encontros rápidos com a família para refeições mais rápidas ainda.

O fast não é mais exclusividade do food. A vida de hoje tornou-se um simples sanduíche, sendo o sabor o menos importante , valendo mais o puro e simples ato de comer. É o fast-lifestyle. A existência efêmera, dom presente em nossos corpos, não é mais tão apreciada e poucos ainda a degustam tal qual uma iguaria culinária, uma ambrosia, que a qualquer momento pode sair da prateleira.

A vida deixou de ser aquela música preferida, que quando próxima do fim, faz com que o botão do replay seja pressionado para que a canção seja entoada mais uma vez, simplesmente pelo prazer que ela pode proporcionar. A vida agora tem um cheiro qualquer, não possui mais sutilezas e texturas, não é mais a mesma, não é mais do que os olhos podem ver.

Ela chega todos os dias no mesmo horário, tem duas horas para almoço e no máximo seis para dormir. Não sente mais prazer, só come bobagem e tem o colesterol nas alturas. Está obesa, depressiva e sozinha. Mais sozinha do que nunca.

Estamos numa existência amparada em uma areia extremamente fina. Sem asperezas e resistências e que se locomove através do pequeno corredor numa velocidade vertiginosa e imperceptível. Ela se tornou uma viagem de ônibus diária, que passa sempre pelos mesmos pontos, mas que nunca proporciona emoções e surpresas.

Quem sabe o segredo não esteja nos instrumentos que temos a disposição? Ninguém nunca disse que era proibido manuseá-los. A ampulheta voraz e o ônibus constante podem ter seus movimentos alterados. Por que não virar ampulheta sempre que o último grão estiver prestes a cair? Por que não fretarmos o ônibus e escolhermos o nosso próprio itinerário, ou mesmo assumirmos o volante? Por que não aproveitarmos todo o tempo que achamos que não temos?

Deveríamos esquecer a aritimética ignorante, a qual nos faz esperar 5 dias para aproveitarmos apenas 2, e gozarmos os 7.

Pensando assim, ao final de tudo, quando o veículo estiver prestes a parar de funcionar, a quilometragem extra irá, sem sombra de dúvidas, ter valido a pena, pois o fast dará lugar ao life para a ampulheta ser preenchida com a areia certa...

segunda-feira, junho 16, 2008

A arte de escrever...


A madeira é golpeada incessantemente provocando um som ritmado, quase musical. A cada toque violento, mas cuidadoso da talhadeira, a matéria-prima toma forma. O que há algumas horas, não passava de um pequeno tronco, filho da mãe-natureza, torna-se enteado de uma artista plástico qualquer.

Da mesma forma, a argila cria vida nas mãos do ser humano que a molda ao seu prazer, ela passa a ser um reflexo dos anseios e da alma do escultor. Ao mesmo tempo, em uma sala qualquer, num lugar qualquer, pincéis se movem aceleradamente, se unindo à tela branca para dar cor e transformar pensamentos em arte, em retratos aquarelizados de uma realidade possível ou imaginada.

Mas nem de longe essas artes me fascinam mais do que aquela que pratico, todos os dias,
sempre enquanto aprendiz. Um processo mutável, frustrante e ao mesmo tempo inebriante e realizador. Uma prática que só é possível graças a dependência que ela provoca devido ao contato diário e a busca pela perfeição na execução.

À base de tinteiro, penas, movimentos sinuosos de uma esferográfica ou mesmo em toques alardeadores num teclado de computador, a escrita nunca deixou de ser uma arte cheia de belas e por vezes enigmáticas representações. Pois sim, escrever é uma arte.

Independente do idioma, trazer pensamentos para o papel não é uma simples tarefa. Não é como escolher uma peça de roupa dentre várias em um closet. Escrever é muito mais, é transcender as barreiras do tangível para um universo diferente, onde as palavras têm vida. É compreender não apenas o significado de cada uma delas, mas perceber que nova realidade poderá ser criada a partir dessa união alfabética.

Pôr letras juntas e com um sentido maior do que as verbetes literalmente dizem é um desafio. É lutar para escolher não só cores, mas também as tonalidades, é dar forma a algo inexistente, é transformar a pedra num objeto de deleite, notas musicais díspares e incongruentes em uma suave e agradável melodia.

Escrever é ser ator. É interpretar papéis diversos. Simular raiva, ódio. Mas também, amor e carinho. Paradoxalmente, é criticar mesmo quando se gosta, elogiar a mediocridade. É viajar por lugares onde nunca se esteve e, ainda sim, dar a impressão de que aquele lugar é íntimo e está traduzido nos detalhes, presentificado, diante de seu anônimo interlocutor.

Essa é uma arte das que mais provocam paixão. Um sentimento arrebatador que destrói e ilumina corações. Linhas que deturpam a percepção de uns e abre os olhos de outros. O escritor tem um poder sem precedentes. Ele pode conjurar quimeras e paixões, chuva e sol, mover montanhas ou dirigir-se a elas sem o movimento maior que o da mão, partindo do tinteiro para a reluzente folha branca. Ele pode tornar vivas as palavras num trabalho de alquimia, buscando a mistura certa, o ponto ideal, no qual, nunca se chega.

Nesse caminho tortuoso e alucinante, os alquímicos das palavras perseguem a pedra filosofal, caçam o pulo do gato, querem o segredo da perfeição a fim de tornar suas criações mais sublimes e indefectíveis do que já são. A partir delas, eles conseguem induzir ações, traduzir emoções , reiterar seus próprios acessos de loucura. Mas sem dúvida, eles estão cientes, de que a perfeição é o único objetivo o qual eles provelmente nunca deverão alcançar.

Nesse sentimento de frustração e êxtase aventureira protagonizado por eles, os escritores, e do qual eu compartilho, deixo meu voto de pesar, pois por saber que, apesar de todos os poderes que lhes são conferidos, essas criaturas dotadas de um toque divino, ainda não passam de seres humanos limitados por sua própria natureza passional, qualidade essa primordial para a missão impossível que é a arte de escrever, mas não fazê-lo de qualquer forma, mas sim com a plenitude e a simplicidade de quem escreve bem...

terça-feira, junho 03, 2008

Ele só quer um pouquinho de atenção...

Ele está abandonado. Sentindo-se só e sem apoio. São muitos dias sem ninguém dar-lhe a devida atenção. Nem mesmo seu pai, seu criador, o visita. Mas já que ele foi posto no mundo, ele quer ter pessoas ao seu redor, quer que falem sobre ele, comente.

Na verdade, para ele não importa quem são, de onde vem ou mesmo o que fazem, se possuem nível superior, pós-graduação ou somente sabem ler. Ele se nega a ser bajulado, apesar de lá no fundo gostar, por outro lado, não quer ser ofendido, mas adora quando pode responder a altura uma boa crítica.

O que ele realmente quer é crescer, se tornar mais forte e conhecido por muitos, assim como outros tantos que existem por aí. Por que eles seriam melhor do que ele?

Talvez ele não esteja sendo alimentado como deveria, comer pouco faz mal e é prejudicial a saúde e ao espiríto. Esse abandono sazonal faz com que lhe faltem forças para que ele possa atrair a atenção dos que lhe rodeiam, mas que mesmo estando tão perto, não o percebem.

Pode ser que seu comportamento tenha oscilado e por isso não tenha agradado algumas pessoas, fazendo com que elas perdessem a intimidade com ele. Às vezes ele é crítico demais, em outros momentos é lascivo, já foi sedutor, às vezes se perde na preguiça, mas sempre tem algo a dizer sobre qualquer assunto e, por esse motivo, sempre merecerá a atenção de algum transeunte.

Sua fome está cada vez maior e ele está cobrando de seu criador. Ele não suporta a solidão e pretende lutar para sobreviver nesta árdua competição diária que se intensifica ainda mais com o passar dos tempos.

E, mesmo quando estiver fraco e só, ele ainda terá forças para trazer tudo que pensa para a realidade de outras pessoas e fazer com que sua Consciência Projetada se manifeste em alto e bom som.

terça-feira, maio 13, 2008

Eu nunca escrevi uma carta de amor...

...talvez eu tenha escrito pedidos de desculpas, vários imagino. Posso ter desenhado em folhas brancas, solicitações, congratulações e pedido alguns perdões. Quem sabe, em alguns momentos, ter me arrependido de não tê-las feito, em outros, lamentado profundamente por não ter transformado tais pensamentos em palavras.

Palavras pensadas, não possuem o poder das escritas. As faladas nem de longe têm o mesmo charme. Com toques shakesperianos ou redigidas em Times New Roman, elas são mais que porta-vozes, mas caixas divinas, elas carregam consigo o destino e a felicidade de muitos...

...mas ainda sim eu nunca escrevi uma carta de amor. Talvez por medo de parecer bobo ou de me expor. Quem sabe com receio de ter meus erros de português publicados ou por parecer pedante nas expressões rebuscadas.

Nem à luz do sol ou banhado pela alva claridade da luz produzi missivas amorosas. Posso ter sido romântico numa frase por desleixo ou desenhado corações por engano, mas mensagem de amor em papel? Essas eu nunca escrevi. Posso não as ter escrito para não demonstrar mais afeto do que sentia ou mesmo para esconder todo ele. Nunca as escrevi, nem pequenas, nem grandes, nem claras, nem cifradas, com bela grafia ou em garranchos.

Estou certou de que nem a caneta nanquim, o lápis grafite ou mesmo a velha Bic azul foram capazes de me seduzir. Nem belos pares de olhos verdes ou pequenos olhos amendoados foram fortes o suficiente para me conquistar, até as mais potentes batidas do coração foram ineficazes, nada pôde ser capaz de me coagir...

Na verdade, nunca achei necessário torná-las reais. Nunca percebi a necessidade de sua existência. Tento evitá-la e sim, o mais próximo que vim a chegar delas está traduzido aqui, agora, nesta seqüência incoerente de palavras. Por que bilhetes, cartas, fax ou sinais de fumaça não declaram amor, pessoas sim...

Só as pessoas podem dizer como, quanto e o que sentem. Só os seres humanos, em suas expressões naturais, sem subterfúgios ou suporte, poderão traduzi-las, não com simples letras, mas por meio de algo que transcenda toda e qualquer barreira...

Seus melhores exemplares nunca serão escritos, eles preferem ostentar e atiçar os sentidos. O amor quer ser observado tal como uma bela paisagem a satisfazer os olhos dos amantes, necessita ser sentido tal como o leve toque de uma brisa ou aspirado para percorrer todo o corpo desejado, ele quer ser ouvido, para que suas palavras sempre ecoem no coração do destinatário que, enfim, irá saborear o delicioso gosto deste sentimento que não pode ser grafado...

Entendo que tudo que o autor de uma carta de amor deseja é que sua amada possa guardar aquele pedaço de papel e que sempre, ao ler aquelas palavras, ela possa rememorar...
Mas folhas de papel e corações em árvores se desfazem com o tempo e é por isso que eu, do fundo do meu coração, prefiro nunca escrever...

... uma carta de amor.

sábado, maio 03, 2008

Decotai-vos!

Os olhos do ser humano são muito volúveis. Pode parecer uma afirmação esquisita, mas se refletirmos um pouco, é possível perceber o quão verdadeira ela é. Mas a volubilidade da ação visual, ao menos entre os homens, é diretamente proporcional a voluptuosidade, do bem desenhado e aguçador, decote.

Sim, o decote. Para as mulheres, uma potencial arma de sedução com o poderio equiparável a um belo par de coxas. Para os homens, muito mais que um simples pedaço de pano com linhas articuladas ao prazer de um estilista qualquer. Em dados momento uma obra de arte, em outras uma divina.


O decote é um pequeno portal pelo qual os olhares masculinos viajam. Por vezes, percorrendo um caminho no qual rememoram alguns que já lhes foram apresentados, em outros, rumo ao desconhecido. Mas, de uma forma ou de outra, eles demonstram um poder hipnótico, magnético talvez, e diria ainda, constrangedor que tem sobre nós, seres do sexo masculino.

A existência dele vem de muito tempo e foi peça chave de muitas histórias. O decote da senhorita estagiária Lewinsky e os hormônios em ebulição do presidente Clinton, as cavas reais do vestido da princesa Diana e a ‘batalha’ entre o motorista e o herdeiro do trono inglês. Será que Romeu gamou mesmo em Julieta ou era pelo decote da moça que ele estava encantado?

Pois bem. Ele está presente em todos os lugares. Nas faculdades, nos escritórios, nos bares, nas ruas, nos carros e onde quer que você menos imagine. Sempre haverá um exemplar pronto para servir de deleite aos olhos masculinos, inebriá-los e corrompê-los.

Sim, corrompê-los. Ele é inevitável, ele vicia, perverte, desarticula o olhar masculino. Qual o homem que nunca parou para observar o desenho suave de um decote bem posto, daqueles que salienta as formas femininas, as expondo de forma, às vezes sutil, por outras agressivas, mas sempre de uma maneira arrebatadora, onde o que é para permanecer oculto, permanece. Alheio aos olhos indesejáveis, mas não distante dos que realmente interessam.

Da próxima vez que você, homem, sair de casa, lembre-se, decotes são perigosos, causam acidentes, mas em quase nada, são prejudiciais a nossa saúde. Às mulheres, não muito a dizer, apesar de nocivo ao trânsito e as glândulas hormonais masculinas, eles são lindos e deixam nossos dias um pouco mais interessantes, portanto, decotai-vos!

sexta-feira, abril 25, 2008

Das placas, nem o pó!

Uma placa em meio a um cruzamento. Uma sinalização que indica caminhos tortuosos para o bem e para o mal. Uma criança está perdida ali. Na verdade, não apenas ela, mas muitas outras permanecem no mesmo local, que está lá e em qualquer lugar do mundo de cabeças e interesses distorcidos.

Sem saber ler, escrever, dormindo tarde e acordando cedo, para trazer um pouco, do que nada tem em casa. A esperança de uma vida melhor que poderia ser alcançada se aquela placa, fosse apenas uma placa, e não uma parede de proteção, um cenário, que esconde rostos e almas deixando a carne exposta para sofrer o calor incessante do sol e a dura frieza dos corações inertes e pouco palpitantes dos transeuntes.

Uma vida sem perspectiva e de movimentos de mão ascendentes apoiados por um limpador de vidros que quase sempre é respondido com indiferença e uma negação instântanea.

Por que tantos com tão pouco? Por que tão poucos precisam de tanto, a toda hora e a todo tempo? Por que queremos tanto ter, ao invés de ser? Se a maioria está tentando ao menos sobreviver?

São muitas perguntas, para nenhuma resposta. Nenhuma assertiva que possa satisfazer esse questionamento que não deveria ser apenas de uma consciência projetada individualmente, mas de uma consciência coletiva que pode mudar o mundo.

Sonhar? Não custa nada. Mas viver? Custa sim, e caro, muito caro. Principalmente para aquele menino, de calção velho, camisa desbotada, descalço, olhar vazio e triste, mas com a esperança oculta de que um dia, o egocentrismo coletivo vai se transformar num pensamento de justiça e igualdade, onde todos poderão ser cada um e não só adereços de uma placa, em meio a um cruzamento.

Do blog - Escrevi este texto, após observar da janela de um ônibus, um garoto de pouco mais de 10 anos, se esgueirar entre os carros para tentar limpar para-brisas e ganhar trocados, isso, depois das 22h.

terça-feira, abril 22, 2008

A imprensa no caso Isabella Nardoni

A morte de Isabella Nardoni, de apenas 5 anos, é o agendamento midiático do momento. Ou seja, o tema de maior impacto, o qual os veículos de comunicação estão proporcionando maior cobertura em detrimentos de outros assuntos nos últimos dias, nos jornais, nas rádios e na televisão.

A forma como este crime está sendo exposto divide opiniões e de uma forma bem sucinta, tentarei expor os dois lados, o negativo e positivo, da ampla atenção que vem sendo dada ao fato pela mídia nacional:


A mídia, agente educador

Por um lado, a imprensa está conseguindo algo que normalmente não é comum. Dar continuidade a umtema, a um fato. Normalmente, um assunto é explorado até um dado momento, até que outra coisa maior ou de interesse do meio de comunicação aconteça para que o agendamento seja mudado.

Além disso, a cobertura - na medida do possível - está sendo realizada de maneira multidirecional, pelos menos nos últimos dias, quando as partes envolvidas estão sendo entrevistadas e tendo espaços nos veículos, desde a polícia, passando pelos advogados e promotoria, até os acusados.

Há ainda a questão da formação e educação que a mídia proporciona, uma das funções pouco exploradas e percebidas pela maioria dos cidadãos. Com o acompanhamento quase em tempo real, é possível para a população perceber como funciona o trabalho de investigação, de abertura de um inquérito e todo o processo para que alguém possa ser julgado.

O lado negro da mídia

Mas nem tudo são flores na também cruel e maldosa cobertura do caso Isabella Nardoni. Apesar de agora, as pistas e os indícios mostrarem o casal (pai e madastra da garota) com os principais suspeitos do crime de maneira mais clara, estes logo no início da cobertura, já haviam sido declarados culpados pela própria imprensa, que infelizmente, possui o dom acusar, para em seguida, apurar com mais cuidado.

Foi incitado ódio nas pessoas, que antes mesmo da liberação de qualquer laudo ou informação mais concreta sobre o caso, cidadãos já cercavam o carro dos acusados clamando por justiça e taxando o casal por assassinos. Sobre a imprudência da mídia, leia um pouco sobre o caso da Escola de Base, onde um casa, proprietários de uma escola infantil, foi acusado de abusar sexualmente de crianças, e tiveram sua vida devassada e destruída, para depois de tudo, ser constatado que ambos eram inocentes.

Existe também a superexposição do fato, não se vê, lê, ou ouve nada diferente em relação a notícias que não seja a morte de Isabella. Diversos outros temas e assuntos bem mais importantes para o coletivo, para a sociedade em geral, como problemas sociais que vêm a fomentar a prática de crimes bárbaros como esse tal.

Pense bem, quantas crianças morrem em situações parecidas ou em circunstâncias bem piores. Bebês perdem a vida por falta de comida todos os dias, no mundo inteiro, e isso não é noticiado em lugar algum. O máximo que ocorre, é que essas mortes se tornem estatísticas para um discurso demagogo e hipócrita durante a campanha eleitoral.

Ocorre ainda que a pressão dos jornalistas e da grande mídia acaba por prejudicar as investigações do caso que, como qualquer outro, precisa ser apurado com cuidado para não provocar a construção de um grande erro que pode acabar com a vida de um casal, ou livrar dois monstros da cadeia. A cobrança constante por parte da imprensa e a busca por novas notícias faz com que a investigação não satisfaça a ela própria, mas também para alimentar a fome pela informação, o que pode proporcionar o desvio do foco, que é elucidar o caso.

Crescimento social ou a guilotina?

Enfim, apenas quis trazer um pouco do que acontece por trás da construção de uma notícia, e da importância do cuidado para que uma informação seja mostrada pelo que ela é, e não pelo que querem que ela seja. Porque o jornalismo pode ser uma forte arma para crescimento social ou uma máquina do tempo para regredir ao tempos da guilotina medieval.

sábado, abril 19, 2008

O Banquete

Em meio à noite densa de uma floresta como qualquer outra, os movimentos lépidos de um vulto podiam ser vistos ziguezagueando por entre as árvores. Na verdade, seria uma cena comum, exceto pelo capuz vermelho que ocultava aquele rosto, antes mostrado sem o menor pudor. Uma face cheia de magia, mas que possuía feições poderosas e delicadas.

O passeio noturno da estranha de vestes rubras havia se tornado freqüente nos últimos dias, o que não passou despercebido aos atentos olhos dele, sim, ele havia detectado a sua presença. Com alma de predador ele a acompanhava todos os dias, sem que ela percebesse que estava sendo observada.

Mas o desejo não deixou que ele permanecesse oculto às sombras. A magia daquela garota havia destruído seu equilíbrio. E naquela tácita e habitual noite, ele acabou por irromper diante daquela criança, daquela filha da noite. Nem uma palavra foi dita, apenas uma troca de olhares profundos e gélidos, mas que carregavam algo mais, algo que se escondia por entre as frestas da tensão momentânea.

O encontro durou pouco mais de alguns segundos, pois aquele ser solitário de garras e olhar agressivo, se entregou à força e a delicadeza dos traços obscurecidos pelo capuz rubro. Ela, não estremeceu, encarou-o por alguns instantes e seguiu seu caminho deixando-o para trás, deixando que sua silhueta se perdesse na inebriante e silenciosa neblina noturna.

O vagar da garota não durou mais que alguns minutos. Ela se deparou com uma casa de madeira, num pequeno pântano, um cenário comum a uma memória não tão distante. Com um movimento rápido de mãos, ela tocou a maçaneta da porta que se abriu acompanhada de um ruído inócuo, porém gélido.

Indiferente, ela entrou e dirigiu seu olhar para o segundo cômodo, dos dois que a casa possuía. E viu aquele corpo, jazer sobre o leito, que tinha ao lado, apenas um abajur antigo, com uma fraca luz que tornava a escuridão do ambiente, ainda mais perversa.

Ela se aproximou, observou com calma aquele personagem que, estendido, a encarava de uma forma que ela já conhecia. Nenhuma pergunta ela fez, apenas deixou que seu capuz caísse para trás. Aquele que há alguns minutos a encarou inebriado, aterrorizou-se com aquela nova visão.

Antes que pudesse esboçar qualquer outra reação, os dentes daquela jovem sedenta de sangue perfuraram sua jugular, ao ponto que seus olhos antes vívidos, perderam a cor e as garras tão poderosas tornaram-se apenas um adereço de um corpo dantes tomado de paixão. Ainda com resquícios de vida, teve seu pescoço entregue ao deleite de uma senhora com prováveis séculos de existência.

Apesar da escuridão noturna apóia-las incondicionalmente, aquela cena dantesca foi acompanhada pelos olhos atentos de um caçador que se esgueirava pela janela frontal da casa e permitiu-se não interromper aquele banquete violento, ciente de que aquela animalidade precisava ser parada, mas não naquela noite, que era delas, só delas...

domingo, abril 13, 2008

Do Coliseu aos gramados

Futebol. Esporte adorado em dezenas de países e festejado no mundo inteiro. Basta uma bola rolar num tapete verde que o coração bate mais forte e milhões de pessoas vão às arquibancadas ou param diante de um aparelho de TV para assistir ao qualquer jogo que seja.

Mas, para outros, o futebol se tornou apenas um subterfúgio - uma desculpa - para transformar uma festa de multidões em um palco de selvageria, uma arena medieval dos tempos do Coliseu, em Roma.

É assustador como muitas dessas pessoas, que se dizem torcedores, saem de casa com o único propósito de ocupar espaços na arquibancada de um estádio de futebol e se digladiarem, sem justificativa alguma, apenas pelo prazer de exercer poder e de praticar a violência gratuita.

Mas por que isso ainda ocorre? Bem, tanto pela impunidade, quanto pela venda de álcool durante as partidas (é, ele libera impulsos resguardados pelo bom senso). No entanto, creio eu, que este fato ocorre bem mais pela cultura da violência e do egoísmo, em detrimento da educação e da partilha, do que por qualquer outro motivo.

Hoje, as crianças nascem e já são expostas a todo tipo de violência gratuita e a uma sociedade que nos ensina, a cada dia, a pensar mais individualmente e menos no coletivo. Uma cultura que preza o ter e não o ser.

Infelizmente, paradigmas (nesse contexto, padrões de comportamento social) que se arraigaram no ventre de nossa sociedade e não podem ser mudados de uma hora para outra, mas sim no movimento gradativo de uma verdadeira evolução humana.

Quanto a medidas imediatas para resolução do problema, precisamos banir dos campos de futebol essas pessoas que mancham a imagem dos verdadeiros torcedores que se reúnem para ir aos estádio e cantar, vibrar todo seu amor pelo time do coração e pelo esporte mais aclamado de todos os tempos; o futebol.

sexta-feira, abril 11, 2008

Inconseqüência fora do ar

Há um tempo não escrevo neste blog e essas mensagens que fazem referência a este abandono são quase tão freqüentes quanto as postagens. Mas deixando de conversinhas paralelas, como diziam meus professores do ensino médio, vamos ao que interessa.

Não tenho acompanhado com rigor todas as reportagens relativas ao caso da morte da pequena Isabella Nardoni, de apenas 5 anos, a qual não vou descrever, pois aqueles que eventualmente venham a ler este texto, devem ter conhecimento de causa. Nesse sentido, uma coisa eu posso avaliar, tanto enquanto cidadão - são e com o mínimo de discernimento crítico - quanto como estudante de jornalismo que consegue perceber a espetacularização inicial dada ao fato.

Não quero reduzir o nível da barbaridade da morte da criança, mas quantas crianças morrem em situações parecidas ou em circunstâncias bem piores. Bebês perdem a vida por falta de comida todos os dias, no mundo inteiro e isso não é noticiado em lugar algum, a não ser como estatísticas durante campanha eleitoral num discurso demagogo e hipócrita.

O comum, o trivial, não é interessante à mídia que tem sede de sangue e o ímpeto de alimentar a fúria e o falso moralismo de uma população que pede um culpado para um crime que ninguém sabe quem cometeu, apesar das suspeitas.

Duas pessoas saíram de uma prisão de 30 dias, mas quem sabe quanto tempo elas permanecerão enclausuradas num sentimento de culpa que pode muito bem não ser deles? Imagine-se no lugar de um pai acusado de matar o próprio filho, sendo ele, inocente?

Escrevo isto com uma enorme dor no coração pelo sangue frio do assassino e pela não menos fria mente de cada cidadão, telespectador, leitor, internauta ou simples fofoqueiro que prefere chutar um veículo em movimento e chamar um homem de assassino, ao tentar perceber o mundo podre e insano no qual ele está vivendo.

Não quero declarar ninguém culpado ou inocente, não quero posar de bom samaritano, quero apenas mostrar como uma pessoa pode se indignar, naturalmente, sem antecipar o julgamento de alguém por preconceito ou mesmo por falta de conceito algum.

Espero, de verdade, que o caso tenha um desfecho e que não fiquemos com mais um crime indo parar numa gaveta escura e com cheiro de mofo por falta de investigação ou empenho da polícia. Torço também para que este jornalismo que muitas vezes é feito pelo Ibope e não pela busca da imparcialidade - que realmente não existe plenamente no conceito de jornalismo-, busque menos culpados e mostre mais a verdade, sem distorções ou floreios.

Mas minha maior e real vontade e poder ver pessoas se preocupando com as outras por natureza e não por um agendamento midiático que insiste em mostrar a tragédia por ela mesma e não como ferramenta de mudança social e humana.

Esse não é apenas um artigo de opinião, mas um desabafo pela forma com vejo o jornalismo sendo feito, tal como salsichas, que até são boas de degustar, mas a forma como são feitas, na maioria das vezes, não agrada.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

"Ser ou não", eis a questão

Escolhas. É surpreendente como um fator pode estar tão inerente a nossa vida de uma maneira que a faz ser como é, mas por outro lado, a transforma todos os dias.

De forma incessante e, a todo o momento, estamos rodeados de situações nossas, de outros e, em alguns momentos, por algumas que aparentemente não têm relação alguma conosco, as quais temos exigidas nossas deliberações para a resolução ou o desenrolar de uma episódio comum ou não de nossas existência.

Nesse sentido, imagino que a grande dificuldade da vida não está nas escolhas que fazemos. Quando preferimos um tipo de pão a outro ou mesmo em uma árdua decisão entre um suco de laranja ou de manga. Para mim e - sinceramente, penso eu - para muitos outros, o maior intempérie da vida é conseguir lidar com as conseqüências, por vezes, extremamente duras e em dados momentos desproporcionais às nossas decisões.

Creio eu que não deve existir uma fórmula mágica, nem para aprender a lidar com o momento difícil da decisão, muito menos com a missão de lidar com os resultados dela em relação a nós e aqueles que nos cercam. Mas a experiência que conseguimos em cada um destes momentos nos proporciona uma maior maturidade para encarar essas situações

Independente disto devemos estar cientes que tal ônus é um fardo o qual estamos destinados a carregar por toda a vida e com o qual precisamos aprender a conviver diariamente.

Não pretendo finalizar esta pequena reflexão com um conselho ou uma "receita de bolo" para a vida - quero fugir deste momento Ana Maria Braga - contudo, desejo apenas alertar para um detalhe o qual muitos de nós nunca atentamos, mas que é primordial para encaramos de uma maneira mais sensata o momento em que nosso julgamento é requerido: Algumas de nossas escolha podem ser tão importantes que deverão nos "premiar" ou mesmo nos "assombrar" pelo resto da vida.

Então quando ponderarem e se indagarem pelo "ser ou não ser?", pensem bem na questão.

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Alfarrábios na telona: eis a questão

Ultimamente tenho ido ao cinema com bastante freqüência e tenho visto uma série de adaptações de livros e quadrinhos para o cinema e, mais do que isso, tenho observado a inconsistência dessas produções que nem de perto, se assemelham a grandeza de seus respectivos nas páginas de papel.

Antes que pensem que estou me metendo em meio aos cinéfilos, quero deixar claro que sou apenas um curioso-espectador que não que deixar de expressar sua humilde opinião.

Pois bem, o "alvo" dessa pequena crítica poderia ser direcionada apenas ao filme "Os Seis Signos da Luz" (no original "The Dark Is Rising"), no entato, quero abarcar as adaptações trazidas pelos engravatados de Hollywood as quais com a mesma têm suas respectivas películas nas telonas, mas que desapontam com um roteiro fraco e frouxo em relação as estórias que as inspiraram.

O filme citado narra a estória de um garoto que descobre às vésperas de seu aniversário de 14 anos ele foi o escolhido para restaurar o equilíbrio entre as trevas e a luz com a ajuda dos "Old ones" e dos seis signos.

Eu, particularmente, tive como experiências recentes e negativas em relação a esse tipo de adaptação (A Bússola de Ouro e Código Da Vinci) e até poderia citar outros que, apesar de não poder fazer comparações diretas entre filme/livro por falta de conhecimento específico de uma parte ou outra, tenho referências infindáveis de que a fidelidade se deu mais ao nome da produção do que ao próprio conteúdo “incrustado” na celulose alfarrábia.

No caso da "Bússola de Ouro", o livro trata como ponto principal a igreja e a forma como ela deseja controlar seus "fiéis". "No Código Da Vinci", várias cenas foram alteradas e outras nem entraram no filme.

Tudo bem, alguns irão sair em defesa dos “longas” e dizer que em cerca de duas horas de película não é possível concentrar o conteúdo de 400 páginas. Então me pergunto, por que fazer ?!

Não vou ser hipócrita e dizer que não fico ansioso quando descubro que aquele livro incrível que li será "materializado" num filme. Mas por outro lado, também fico receoso por não ter a certeza de até que ponto tal adaptação será fidedigna. Por que na verdade - e posso divagar por horas a respeito - as páginas dos livros possuem uma magia intangível e imperceptível quando ele está lacrado. Mas basta apenas abrí-lo e folheá-lo por alguns instantes que uma nova realidade se cria, países, mundos inteiros, populações e sociedades passam a fazer parte de nossa vida e, tudo isso, da forma como nós mesmos podemos formular através das nossas particularidades, imaginação e cognição...

Quero deixar bem claro que adoro cinema. Adoro o cheiro de pipoca e o gostinho do refrigerante gelado descendo leve pela garganta. Mas nem de perto essa sensação consegue se aproximar daquela em que imaginamos o clímax das páginas centrais do livro na qual o professor Robert Langdon descobre a "verdadeira estória" por trás do Santo Graal.

domingo, janeiro 13, 2008

Futebol: esporte para uma espécie

O futebol é uma paixão no mundo inteiro. Disso, todos nós sabemos. Mas como essa paixão afeta a vida das pessoas? Na verdade, essa paixão é algo tão intenso que proporcionou até a 'criação' de uma espécie, bem curiosa por sinal, entre nós seres humanos; o torcedor.

Passional, enlouquecido, sociável, violento, nervoso, sereno. São características paradoxais, mas que tornam o torcedoris complexus uma espécie digna de um estudo sociológico, psicológico e qualquer outro 'ógico' que você consiga imaginar.

Esses seres são bem dóceis - quase sempre - e costumam andar em bando. Na verdade, um bando bem barulhento. Cornetas, trumpetes, apitos e gogós bem potentes são os instrumentos mínimos e indispensáveis usados por eles para se comunicarem entre si, com os da espécie adversária e com o homenzinho de preto que insiste em marcar falta só para o time visitante.

Quanto ao seu comportamento, eles são dóceis sim, mas basta serem provocados por um 'complexus' de outra região, 'crença' ou mesmo ver seu time passando maus (sic) bocados em campo que esse caráter inofensivo desaparece e qualquer objeto pesado e pontiagudo serve de instrumento propício a lançamento na direção do adversário, do árbitro e até mesmo daquele atacante do seu time que não marca há incríveis dois jogos, sendo estes alvos em potencial.

Contudo, existe uma característica ainda mais peculiar relacionada ao torcedoris complexus. E essa surge no momento sublime do esporte nomeado futebol; o gol.

Exatamente... naquele instante no qual o objeto esférico usado na prática do esporte cruza a linha defendida por um 'qualquer' responsável por guardar as traves do bando adversário, explode uma onda incontrolável de alegria que perpassa desde um filhotinho dos complexus até aquele mais idoso. Possíveis diferenças que tendam a existir são desfeitas em milésimos de segundo e todos se tornam irmãos para celebrar o êxito de seu time do coração, tem até aqueles que abraçam e beijam o primeiro que aparece ao lado – blargh!

Curiosidades à parte e deixando um pouco essa espécie tão curiosa de lado. Penso que em muitas ocasiões, o esporte é alvejado por mim e muitos outros com palavras que o taxam como objeto de manutenção da ordem que deixa as pessoas em estado letárgico, desvirtuando-as ou destituindo-as momentaneamente de visão crítica ou mesmo alterando o foco de atenção de acontecimentos importantes relacionados à sociedade.


Em 2007, tivemos como maior exemplo disso, quando o Pan-americano estava prestes a começar. Dias antes, a mídia só tinha olhos para o ex-presidente do Senado, Renan Calheiros, o qual era acusado de uma série crimes, como quebra de decoro parlamentar e peculato. Mas de uma hora para outra, ele sumiu e ninguém sentiu falta; Cauê (mascote da competição) tomou todos os holofotes e se tornou bem mais importante, pelo menos para alguns...

Apesar de fatos como esse, é necessário pensar um pouco e perceber que num mundo tão desigual e cheio de intempéries, o esporte tem sim seu papel. No momento em que aquele senhor cruza a entrada do estádio junto com seu filho, boa parte dos problemas se 'desfazem' e ele pode, por 90 minutos mais os acréscimos do digníssimo árbitro, acreditar que aquele mundo pode lhe trazer um pouco mais de alegria e ele pode viver uma emoção prazerosa a qual não tem direito regularmente.

Por fim, não tenho interesse em justificar o esporte como válvula de escape para os problemas da vida real, pois as adversidades não desaparecem após o final de uma partida de futebol ou de qualquer outra modalidade esportiva e, ratifico, os olhos precisam ficar abertos para a vida fora do estádio. E quero sim, ressaltar a importância social e ainda democrática da vivência esportiva, mais especificamente do futebol, paixão de muitos no Brasil e no mundo.